sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Reflexão I

"Ter propósitos: está aí uma coisa que nunca tive. Aliás, tive e os perdi. Todos um por um.
Lembro de ter propósitos até ter a primeira decepção amorosa. E isso deve ter sido quando tinha apenas seis ou sete anos... Enfim, não lembro."

E sentado, olhando para mim, falava dessa forma da própria vida...

"De mais a mais, tenho preguiça de propósitos. Durmo o dia inteiro e saio a noite. E daí que meu esporte favorito seja caçar? Nunca me imaginei sendo diferente, e ter propósitos requer força de espírito, o que também não tenho."

Falava com tanto vagar que eu conseguia meditar sobre cada sílaba pronunciada. Me imaginava em seu lugar e, por breves instantes, pensava que uma vida assim deveria ser leve...

"Qual seria o meu deus se tivesse um? Preferiria acreditar seguramente em Apolo. É um deus belo (o mais belo de todos), patrono das artes, inspirador de profecias! Queria ter vindo a um mundo onde o surrealismo fosse a regra... O cotidiano me enfastia, me causa náuseas! Rotina? Sim, a tenho e já falei: dormir e caçar. Apenas."

Já olhava com desdém aquela criatura antes mesmo dela abrir a boca e se mostrar acomodada e apática com relação à vida. Agora ainda mais pela fuga imaginária a um mundo surrealista.
Isso servia de lição para eu dar menos ouvidos a felinos, que na minha vida não acrescentaram nada mais do que alergias...

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