sábado, 27 de outubro de 2012

verão

"nos desencontros de tantos abraços vazios, sempre há sentimento.
era simples: não deveriam ser aqueles."

E quando o tempo passou, ele viu que era somente certos abraços que desejava. Uma cada vez maior vontade de se deixar envolver...
Nessa época que cheirava a manga e laranjas-do-céu, encontrou o firmamento nos braços de quem jamais imaginara... E sempre querendo mais, andava pelos cantos, choroso.
Choroso pela mais extrema alegria que, inimaginada, fazia-se maior do que supunha possível. Os planos e os motivos do futuro ganhavam contornos simples, modestos, justamente porque o mais ambicionado já possuíam - braços firmes para abraçar e prender pelo tempo que fosse necessário um ao outro.
E iam com sorrisos indisfarçáveis pelas ruas do verão, com o calor do mistério no coração e com luz nos olhos marejados.
O mundo parecia exultar e exuberante oferecia cores vivazes aos dois.
Tomates rubros para a salada, abacaxis perfumados para as tardes de domingo, os kiwis verdes e raiados para os lábios úmidos, as laranjas frescas para os sucos das manhãs, pimentas malagueta, alfaces roxas, árvores pintadas de lilás, o céu azul-profundo... Uma celebração à vida se juntava aos sentimentos, tornando tudo cinematográfico!
Já não era nada gris... Os abraços certos vieram no verão, quentes como a estação.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

"ars gratia artis"

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

ceia

pairavam em alguma nuvem os castelos erguidos durante os tempos de adolescência - que estavam se acabando fazia uns vários anos... e pairavam nas nuvens do cigarro de canela que fumava à beira da janela, com as luzes da cidade ao fundo.
a música, leve, única, dava à atmosfera um tom pastel de uma pintura francesa. os modos e os gestos se confundiam com a beleza dos olhos, molduras perfeita para um espírito inquieto e incessantemente questionador.
era madrugada alta quando, com exíguas roupas - uma cueca e uma camiseta de algodão - , se punha a fumar de pernas cruzadas: um lord... questionava os acontecimentos recentes, de forma preguiçosa e hesitante. questionar? não questionar?
"ahh só havia acontecido... deixemos assim..."
todos se olhavam displicentes mastigando as interrogações e partindo definitivamente para o exaurimento. não valia a pena justificar. não valia a pena perguntar: a noite era dos sentidos e não da razão.
sentir a música, ouvir o silêncio, beijar a beleza. exaurir as formas sem se preocupar com os conteúdos.
hedonismo? às vezes pode se fazer salutar...
as volutas da fumaça do cigarro se enredavam nos cachos de cabelo cor de ouro esmaecido e subiam até aonde a corrente de ar a empurrava parcialmente de volta para dentro do ambiente. os três se olhavam e sorriam, observavam os desenhos feitos pelo fumo, sorriam da incerteza dos sentimentos...
displicente um beijo em cada um, negligente uma carícia no rosto e um sussurro quase musical, as coisas se resumiam à dor da partilha e ao gosto da felicidade pelo prazer.
os três compartilhavam do momento como se o tivessem esperado.
depois a despedida na noite fria.
a beleza consumida e guardada na memória.
a persistência levaria dias a ser guardada nas devidas prateleiras.
mas o quadro francês ainda jazia na parede da sala de estar... com suas cores orquestradas de modo a eternizar a comunhão.