domingo, 31 de outubro de 2010

Aviso aos navegantes - I

o autor desse blog teve um surto psicótico em uma noite de insônia, ou uma epifania, como dizem os ilustrados.
deletou os 100 e tantos arquivos anteriores aos dois últimos e começou a escrever somente bobagens.
na realidade ele começou a ler o blog desde o início e viu que tudo era uma grande merda (assim como o deus cristão depois que terminou de criar o mundo!) e simplesmente deletou, mudou o layout, os temas, o vocabulário etc para que ficasse mais fidedigno ao pensamento por ele veiculado somente por meio de palavras.
portanto, adverte-se desde já, que o autor não se responsabilizará por leituras ignóbeis, palavreado chulo, xingamentos à xiitas discordantes da opinião da maioria, tomadas radicais de posicionamentos (um verdadeiro kamasutra opinativo) e congêneres da rudeza e boçalidade.
ademais já deletou-se todos os posts anteriores do blog, tendo os mesmos sido salvos em um CD que será devidamente atirado da janela de um trem em alta velocidade ao passar por uma ponte (ou dado de brinde ao melhor dançarino de funk - já que eles não leem mesmo...). ou seja, é tarde pra se chorar sobre o leite derrado, ou como DIRIA o autor, sobre a porra ejaculada.

O caos no trânsito

só havia fumaça na cidade naqueles dias quentes... o asfalto esquentava os pés e subia uma onda de calor do chão que fazia todos ficaram tontos, cansados e fedorentos (etc).
sem romantismos, sem idealizações: o capitalismo corria pelas avenidas.
sentados em bancos de paradas de ônibus sujas olhavam as pessoas para cartazes colados de uma Nova Igreja Qualquer que anunciavam o fim dos tempos (como se fosse novidade!) e comentavam sobre o 2012 e seus efeitos e outros lembravam que ainda não haviam pago o dízimo ao bispo e por isso cogitavam em ir para o inferno caso o fim realmente chegasse (como predito nos cartazes...) e outros nem se davam conta da existência daquelas coisas.
entre os últimos havia um grupo de dissidentes partidários que discutiam acaloradamente sobre as tendências da política na Bulgária e os reflexos na econômia do Egito. afirmavam piamente que se a ultra-direita assumisse naquele país seria um colapso para as suas relações com os países mulçumanos... por fim, tergiversavam sobre os salgadinhos que comeram na festa de aniversário de dois aninhos da filha do companheiro Zé ocorrida na noite anterior...
nesse ínterim, passa um carro-de-som-quase-trio-elétrico anunciando um evento cultural. em cima estavam pessoas (?) vestidas (ou travestidas?) no melhor estilo Felicia (The Adventures of Priscilla...). anunciava o carro um evento de cunho (ui) queer... enfim: música característica (voz também), roupa chamativa, causando horrores. resultado: toda a parada de ônibus literalmente parou: observavam... também nesse ínterim o semáforo fechou. e o carro-de-som-quase-trio-elétrico, para a felicidade de crentes em geral, ficou exatamente nas fuças dos últimos, separados desses apenas por um estreito corredor de coletivos urbanos. a rua não era muito larga, como típico daquela região da cidade. e de um andar de um prédio próximo que fica um pouco acima da parada de ônibus, que alastrava sua sombra até o prédio do outro lado da rua, voou um objeto em direção a uma das felícias, alegre em seu traje cereja metálico...
foi o estopim para o bafão. o público da parada, antes disperso entre cartazes do fim do mundo, os salgadinhos da festa e a política búlgaro-egípcia uniu-se contra o 'inimigo' comum. crentes falavam que realmente Jesus viria e levaria todos do carro, inclusive o motorista, para o inferno. os políticos gritavam que gays eram contra o Estado e os cinéfilos berravam 'veaaaados'. realmente, o motorista achava que estava em um inferno: com a cidade quente e uma turba berrando contra ele só poderia ter se aberto o sétimo selo do Apocalipse! e nesses segundos de tensão, arrancou o carro de modo que as felícias se desequilibraram: uma que estava entoando xingamentos na beirada caiu...
por alguns metros, do alto do carro ao chão, pareceu um pequeno e leve filhote de gralha azul, em seus trajes azuis-marinho (metálico, por óbvio) dando seu primeiro voo rasante ao sair do ninho. claro que ela já havia alçado voos bem mais altos (compreendem?).
caiu. caiu e ficou por instantes ali. jogada no asfalto quente. o público da calçada fez um coro e os xingamentos pararam. o semáforo abriu e o carro foi com suas irmãs gritanto desesperadamente para o motorista parar. no turbilhão de sons da cidade, ouvia-se as vozes agudas distanciando-se em abandono à felícia azul-marinho. pessoas da calçada acorreram e o tráfego foi parado por instantes (mais um pequenos caos dentro da cidade que era o caos em si). ela dolorida sentou-se em um banco da parada. não havia quebrado nada, pelo visto, e chorava um pouco. deram-lhe um dinheiro e aconselharam ir ao hospital mais próximo.
o ônibus veio em seguida, parou. as pessoas entraram e ela junto, desconsolada, subiu, pagou a passagem e sentou ('na janela').
apesar de não ter quebrado aparentemente nada, não custava ir ao hospital. ela particularmente adorava médicos (são sempre uns bofes de arrazar)...