sexta-feira, 20 de setembro de 2013

serra do esquecimento

todas as disformias do espírito se ajuntavam na tardinha... como um ciciar de cigarras que começava de leve, baixinho, e ia ficando estridente, estridulando pensamentos agudos, desesperos sem-fim, revoluções...
e numa tarde quente de verão, abafada e cheia de vapores, notou o sol caindo por entre nuvens finas, que se manchavam de cor de ouro: lembra de ter subido daquela direção, inquieto, a procura das riquezas, das pedras que se alojavam no seio daquelas outras duras e empinadas...
fazia tempo e não havia encontrado nada, nem riqueza, nem pedras raras, nem ouro... mas ficara por ali, naquela cidade. 
tinha encontrado, se é que podia dizer dessa forma, alguém com que compartilhar a sua pobreza, ou antes, o seu desencontro... não sabia bem como aconteceu: se achou ou foi achado; apenas que aconteceu num sem fim de tempo, que todo somado foi dar no dia de hoje (quando já ama).
uma noite quente, logo quando veio de uma planície em que procurava raridades, encontrou uma de outro tipo que não esperava. em um posto velho de beira de estrada... foi só a olhar para esquecer todo o resto da vida de antes... mas veio junto o medo, galopando num sorriso, montado no vento fino e quente que soprava...
"mais?" sim, mais "água". a noite quente levantava os desejos, aquecia a carne. mas ela tinha um ar de anjo... mas, foi mais um "mais?" e ela já era imaginada como um pequeno diabinho, que sorrindo, brincava com o sentimento do caboclo. 
"o que fazer?"
...
olhava e sorria, como saudando os horizontes que tinham o empurrado até ali... sentiu cócegas na cintura descoberta: era uma mão leve e anunciava um abraço firme e um beijo na nuca...
era difícil imaginar a vida sem essa riqueza: todas as outras ficaram desimportantes. a alma só pediu o beijo, só pediu entendimento...
coçando a barba do queixo, virou-se "vamos pro poente? às vezes tenho saudade de ver o que era antes..."