segunda-feira, 30 de julho de 2012

implosões

começava a desconstrução do que havia sido erguido com cuidado, com zelo e com paciência, sobretudo. haviam, os dois, há algum tempo se cansado com os pequenos furacões que rondavam as beiras da cama e teimavam em adentrar nos roupeiros bagunçando as camisas.
os olhos magoados das lágrimas se voltavam a prazeres outros que não estavam inscritos em círculos conhecidos da vida comum. transbordavam as mãos de carícias celestes, que alcançavam nuvens alvas, relvas verdejantes e que tinham gosto de romãs...
os beijos das pálpebras tocavam a luz tênue de olhos diversos. as bocas ofegavam palavras sussurradas em minúsculas sinfonias de gemidos... o prazer de ter infímas carícias, já perdidas entre ambos, revelava um universo de oportunidades que ambos pensavam que não mais se permitiriam...
e como uma implosão em slow motion de um grande arranha-céu art nouveau caíam no vácuo pedaços de concreto, tijolos, vigas...
o som surdo do prédio em agonia enchia as ruas. triste se obvervava ele cair. via-se de longe, e cada partícula lançada no espaço que caía em direção ao solo parecia uma lágrima. e não era mais possível parar... a ruína era o destino invitável.
uma construção caída por terra, a poeira levantando aos poucos, o silêncio do espaço vazio antes ocupado por algo duro, firme, teoricamente permanente.
e os olhos em espanto, de ambos, miravam o alto, onde ficava o andar mais alto.
e tudo parecia vazio naquela tarde. caminhar sem referência nenhuma em uma cidade tão grande, sem  lugar algum para onde voltar, sem sorrisos a espera. tudo tão insípido, tudo tão destruído, tudo feito por vontade própria.
pensava que caíria com a contrução, em realidade desejava isso.
mas de tudo guardou um pequeno pedaço vermelho de alguma parede: construíria novos edifícios com aquela partícula.
construíria. sabia disso: o que não era a vida do que um eterno construir e destruir?
amavam-se, mas cada um erguiria um novo arranha-céu.

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