segunda-feira, 18 de junho de 2012

reinos feéricos

aquele dia parecia vindo de outros tempos. a umidade fazia gotas caírem das folhas das árvores e nos cabelos das pessoas se alojavam pequenos cristais cintilantes... a bruma tomava conta das ruas estreitas naquele amanhecer e o horizonte das vielas se perdia nas névoas, misteriosas, desconhecidas.
cada passo era em direção ao desconhecido. pois por mais que soubesse o que havia depois da esquina, gostava de imaginar que poderia topar com algum ser mágico vindo de um país distante, de um reino feérico...
foi imaginando essas fábulas que avistou, por acaso, uma casa com balcões sobre o passeio. uma casa antiga, que parecia nunca ter visto antes. era uma contrução com um quê itálico, com mansardas, ampla e com um pé direito muito alto. com a porta principal de duas folhas, abrindo diretamente sobre o passeio, com duas aldravas que pareciam ser leoninas.
ficou por instantes admirando do lado oposto da rua aquela construção. percebia luzes em uma das portas de uma das sacadas e movimentos em uma cortina, que parecia feita de um tecido tênue e alvo.
enquanto mirava mais fixamente aquela abertura pintada de um verde antigo as folhas da porta antiga abriram-se. e nela surgiu, sim, um ser feérico. era de um porte tão elegante, um talhe tão soberbo, e de cabelos luzidios: deveria descender de uma estirpe tão antiga quando aquela contrução.
ficou tão encantado, como por uma magia. a visão era de tal beleza que gostaria de guardar aqueles segundos em algum lugar para ter acesso sempre que quisesse. 
como um ser selvagem, de beleza por si própria ignorada, a aparição apercebeu-se admirada, ou ao menos observada, e olhou fixamente nos olhos do estranho, na rua. levemente iniciou-se o esboço de um sorriso. e com a mão direita, alinhou alguns cachos escuros que talvez lhe incomodassem... as cortinas balançavam atrás, em direção ao interior da casa, deixando a névoa entrar. de tal modo o olhar e o sorriso o haviam prendido à aparição que se sentia hipnotizado.
quando aquele ser feérico aproximou-se do parapeito, percebeu que vestia um traje escuro, calças e um casaco que batia um pouco acima dos joelhos, com botões prateados, fechado até acima do peito, e parecia vestir uma gola branca de tecido franzido que saía discretamente ao redor do pescoço.
sem dúvida era um ser de outro mundo. o movimento de pedestres e carruagens na rua havia diminuído tanto que se poderia dizer que o local estava deserto.
a cada movimento avante do homem na rua, em direção ao balcão, aquela criatura surpreendente, dava um passo atrás, refugiando-se no seu mundo misterioso, guardado por aquelas portas e paredes ancestrais. até que, a meio caminho da casa, o ser fechou a porta e observou, arredando uma das cortinas, o hipnotizado, que ainda caminhava firmemente em direção ao seu balcão.
a luz do dia ficou mais intensa e as brumas começaram a se dissipar. a aparição sumiu da visão do homem.
quem seria aquele? que história teria? como nunca percebido essa residência, que agora era tão marcante na paisagem daquela rua?
o sol começou a brilhar forte e ele não conseguia contar quantos minutos ficou admirando aquele mundo misterioso que habitava no corpo de uma pessoa.
a casa, agora, iluminada pelo dia, não apresentava nada de muito incomum. era uma construção normal, sem muitos detalhes, antiga e com pintura um pouco descascada em alguns pontos. em realidade parecia descuidada. será que a magia foi culpa da aparição? da névoa? do amanhecer?
a alvorada guardava segredos que imaginava que só a noite poderia portar.
desde então busca esses seres feéricos, perfeitos. sabia, então, que não habitavam mais somente as florestas de pinheiros intocadas, campos virgens ou o reino da Arcádia.
habitavam sobretudo a sua mente e a cidade mágica em que vivia.




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