sexta-feira, 27 de maio de 2011

barca para o Hades

viciam meus olhos os teus perfumes
e a tua mão machuca meus sentidos.
nunca foi distante viver os teus costumes,
nunca quis morrer como teu destino.

a cada olhar desperdiçado em alguém
meu vício era fortalecido.
e sempre ébrio aqui e além,
sempre em ti, onde tudo era tido

nada mais do que tu no vento,
o caminho da chuva invertido,
o sol caindo no horizonte,

chamar a isso tudo de 'tempo',
dizer que se errou por ter bebido,
o arco-íris o Estígie e tu o Caronte.

extrema alegria: passou dias sem eu não ter ido.

terça-feira, 24 de maio de 2011

cidades desertas

querido,

e se for tudo agora? nada depois. cada segundo do que fazemos, cada verdade que aceitamos, forçadamente ou não. cada mágoa e ferimento que deixamos no outro, se só isso você deixar? e se for só isso?
a vida como uma música eterna, um riff eterno de guitarra, uma ária sem fim, épica, romântica, dramática. tudo agora.
será que valeria a pena não se arriscar em caminhos incertos? e toda a energia desperdiçada em repressar rios, em conter lágrimas, em desviar de dores... tudo em vão?
não seria adequado encher os copos até a borda e fazê-los trans-bordar? rebentar as repressas? soltar os risos.
em respeito ao universo que há em nós, em defesa dos átomos que participaram do Big Bang, explodir de emoção deveria ser a regra. a energia do Cosmos habita na batida de nossos corações, desliza em nossas peles, faz brilhar meus olhos quando digo o teu nome.
me deixe explodir de amor por você. será só nessa vida, porque é só essa que temos pra nos amar imensuravelmente. não há outro universo, não há outra vida e não há muito tempo...
nem que seja por um bilionésimo de segundo, ainda assim seria amor. uma noite, um dia, uma hora... estaria gravado na eternidade do tempo, em todas as direções do espaço, em todos os outros beijos que eu desse - em mim.
...
temos pouco tempo pra nos ver. a cidade não nos deixa amar por muito tempo. estamos sempre correndo em direções opostas, tentando segurar as mãos um do outro e o que conseguimos é um mero toque...
acho que nossa intenção é boa: gostaríamos de um amor, no entanto o máximo que conseguimos é um beijo e um 'até logo'.
estamos ocupados demais conosco mesmo. nos amamos muito pouco ainda pra poder compartilhar algo que precisa sair de nossos corações vazios.
o que podemos fazer? somos apenas e muito humanos.
desprovidos de deuses.
desprovidos de crenças.
desprovidos de nós mesmos.
dançamos uma longa dança com nossa sombra.
...
me deixe amar por mais um segundo. logo terei que ir.
mas agora (e ainda) é amor.

domingo, 1 de maio de 2011

ele sabia do ácido do teu beijo
que beijaria aquela noite
depois da aspereza do meu afago
do desespero das minhas miradas
caídas pelas escada
roladas pelas saídas de emergência
cruzando ruas meus gritos
de adeus. de adeus.
aonde você vai?
onde colocou o último copo de vodca?
se deixou tudo por ele,
porque não faz também tudo?
e onde está é onde você acaba,
e os pés sabem da distância até o futuro,
aquele que te levará dele a mim...
que nos levará longe de todos.
vem que meu beijo também é ácido.
como o teu.