quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Diálogos da madrugada - I

[...]
A - q faço?
B - manda à puta que pariu, ueh!
[...]

Nômade

"a vida corria nos trilhos sujos do trem, e por se demorar neles foi atropelada. o tanto esperar acontecer acabou gastando as concordâncias e assentimentos. à evidência do crime, fugiu os olhos e mandou à merda qualquer sentimentalismo: era óbvio que mereciam beijos os incontáveis convites para os mesmos... emboscada? talvez. não mais que o erro de não dizer absolutamente nada sobre o que deveria ter sido."
...
e com essas palavras desconcertantes, ele havia se despedido de sua vida. havia mudado de telefone, apagado todas as formas de contato possível, como se tivesse sido evaporado, abduzido ou algo do gênero. não sabia se procurava ou se deixava estar. mas qual era o status da relação? 'separado por evento desconhecido', 'viúvo'? enfim...
só a lágrima caiu, sozinha, no canto do olho. a vida continuava e, como não sabia o que fazer, restava lembrar.
o cigarro na mão fazia volutas de fumaça e pendiam das pontas do cabelo encaracolado pequenas pérolas de sereno da noite.
o céu enorme e a estrela favorita dele estava no horizonte como quando se viram pela primeira vez: o único vestígio dele ali.
ainda era o mesmo, mas não queria, e todas as besteiras sentimentais faziam certo sentido. admitir que se sente não é fraqueza, é humanidade.
qual foi o motivo do sumiço?
nem roupas, nem livros, nem nada em casa. tudo simplesmente sumiu. ainda hoje estava tudo lá, e agora nem o cheiro restava.
a trajetória errática escolhida pelo outro devia ser respeitada e prende-lo em estreitas paredes era acabar com sua natureza. quem sabe reapareça assim como sumiu?
só que até lá, não se responsabilizaria por encontrar alguém menos nômade...