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quarta-feira, 9 de outubro de 2013

sob condição

amar sob condição não é amar.
ter amor àquele que nos é útil não é ter amor.
amar pessoas esperando que elas sejam perfeitas não é amar.
amor a uma idéia de pessoa não é amor.
amar a beleza de alguém não é amar.
confundir amor com altruísmo é não saber o que é amor.
amar porque é da mesma religião não é amar.
supor que o amor é apenas sexo é não saber o que é o amor.
amar uma parte não é amar a verdade.
amor não tem direção, não mira o alvo, não deseja ser sentido por um alguém determinado, acabado, polido e perfeito.
amar não é ter piedade, não é compaixão, não é amar o sujeito ideal.
esse sentimento é mais, é além.
amor é amor pela realidade - nua e crua - pelo que a pessoa é.
amar é ver o outro e aceitar profundamente tudo o que há de bom e o que há de "ruim", simplesmente porque é um sentimento tão grande que todo os "adereços" não importam.
não se tem amor pela metade: ou é amor ou não é. não há amor por alguém que é negro, se não se ama a cor escura juntamente com a pessoa. não se ama um homossexual se junto com esse amor não vem a aceitação. não se ama alguém feio se não aceitar sua feiura. não se ama um baixinho, se não se amar sua pouca estatura. não se ama o outro sem aceitá-lo e amá-lo por inteiro.
amar pela metade não é amar.
amor sob condição não é amor.

domingo, 26 de maio de 2013

o silêncio de dentro da semente guarda o mistério,
o barulho de mais um universo surgindo,
o som de um surdo marcando os passos,
o fim do torpor, o início, o acrotério:

e, superada a dor de romper a casca dura,
impulsa a vontade do exterior a ser desbravado,
e a luz jorrando entre os grãos de terra,
dá a força para enfrentar as agruras.

o silêncio a faz brotar, contorcer-se,
esquivar-se, enraizar-se e aninhar-se,
e onde antes havia somente terra bruta,
silente, do ventre do grão, vem a vida,

frágil, minúscula, eterna:
por amor ao universo.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

As coisas acontecem na nossa vida sem ao menos supeitarmos da sua iminência.
É como uma grande barreira, de uma represa enorme, que arrebenta a cada dia.
Não temos como prever, não temos como evitar.
E a vida, ao cabo, é isso: lidar com as imprevisões...
Você não sabe. Não sabe quando vai perder o emprego, a cabeça, os documentos, o jornal matinal, a hora, o pai ou a mãe.
Mas uma certeza podemos ter; um dia tudo isso acontecerá.
Pode ser hoje, ou amanhã.
É inexorável e é da vida.
Aos poucos vamos aprendendo a aceitar esse mistério, a ser respeitoso com isso a que alguns dão o nome de destino, outros de tempo e outros de fortuna.
Você vai fazer o quê frente ao inevitável? Chorar como uma criança? Calar como um estóico? Brigar pelo que não têm solução?
E no fim percebe-se que o melhor a fazer é juntar os cacos e continuar em frente. Do jeito que é possível, com o que se tem em mãos no momento...
É assim que nascem os heróis: do improviso, do medo do que se apresentará no próximo instante e da decisão de dar o passo a esse futuro incerto.
É como uma trilha escura, pela qual carregamos um pequena lanterna que ilumina o mínimo possível.
.
E não adianta fugir dos medos.
Não adianta fugir das situações que você não resolveu.
Um dia o tigre se porá em sua frente e você terá que domá-lo.
E aí será da forma mais difícil, da forma mais dolorosa.
E não importa quantas lágrimas correrão. Elas lavarão e cicatrizarão as feridas do passado para possibilitar um futuro melhor.
Quanto mais jovem o tigre, mais fácil adestrá-lo, amansá-lo.
Correr não resolve.
Fique e enfrente.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Os novos dias eram como se fossem um eterno desfazer-se.
Desfazer-se do que era antes e assumir uma nova postura. Como se no tempo e espaço percorrido, uma metamorfose se processava.
Como se a cada passo caísse um pouco daquilo que já havia sido; como se um novo ser nascia a cada segundo.
Como se de uma casca ou de um casulo, emergisse um novo habitante da Terra.
A sensação de ir ao encontro do futuro, e não apenas de ficar parado esperando que ele chegasse era exatamente essa.
Como se a consequência dessa ação de progresso espacial vinha acompanhada desse sabor de novidade.
Conseguia se comparar às borboletas, mariposas ou até mesmo às árvores. Via que fazia parte da mesma Natureza dinâmica, fluída, que não se contentava em permanecer, mas sim em mudar, mudar sempre, se tornando sempre igual e diferente...
Computava muito das ocorrências aos sentimentos. Eram eles que o impeliam a andar para frente e não para trás.
E não se referia somente ao Amor. Se referia a um sentimento de ânimo. À vontade de amar, de beijar, de descobrir, de saber, de ir, simplesmente.
Amar era sempre bom, ainda mais quando era um sentimento compartilhado. Com o mundo, com quem desejasse e precisasse do seu beijo, da sua mão, do seu carinho.
A Vida, acreditava, era pequena sem a partilha. Mas não aquela partilha por obrigação, como pregam religiões, mas aquela desprendida, sincera, vinda do canto mais profundo do ser.
A incompreensão era só mais uma forma de se negar à pequenez do dever-ser.
A própria partilha era o desfazimento do egoísmo que todo sentimento bom reclama para si.
No fim restava a mudança, imperando sobre o tempo e sobre o ser.
Sentir e fazer o Mundo feliz - estava ali a missão!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

raridades

me agradam as pedras mais raras, as que têm as cores iluminadas e iridescentes...
me agradam os suspiros mais profundos e sinceros arrancados nas noites quentes do verão...
gosto das palmeiras mais esguias, coroadas de côcos verdes, saudando as nuvens...
gosto das vertigens provadas em teus olhos negros como um abismo misterioso.

e por buscar raridades, como você, andei sempre só,
comigo mesmo, cismado em minha voz,
encerrado em meus sussurros, calados de dor,
e caminhei sempre em lugares planos e retos.

já não quero mais planícies por serem fáceis,
já não quero estar em mim,
não preciso buscar mais raridades:
já as tenho bastantes.

quero você, apenas,
por ser todas as raridades em uma só:
a Opala, o Suspiro, o Verde, o Abismo,
- me basta a raridade que é você.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

persistências

e se tudo não passar de um sonho?
um louco delírio de uma mente insana que escolhe quem vai ter a fortuna e quem vai ter a desgraça de conhecer o que se é?
e se não existisse livre arbítrio e se nós estivéssemos fadados a pensar que somos livres? - inteiramente livres até o ponto que esse alguém quer?
você sente seu coração bater... mas é porque ele bate dentro de alguém que não você e porque esse alguém quer que seja assim...
onde estamos e qual a nossa escolha?
quem sobe e quem cai? - você pode mudar isso agora?
somos tigres dentro de jaulas esperando que as trancas se quebrem.
as jaulas que construímos ao nosso redor, que construíram para nós?
a condição humana é fraca, não queremos ser diferentes, no entanto, não somos iguais...
que mente insana pensou isso? a busca pela igualdade impossível: toda tentativa de equalização é o reconhecimento da nossa humanidade, da nossa diferença...
e quando acabamos estamos no ponto em que começamos.
e uma hora, assistindo ao ocaso de um dia, percebemos que a jaula tem paredes etéreas, tem caminhos que levam às nuvens, tem vastas montanhas...
mas já então é tarde: aquele alguém cansou de te ter na mente e você se desvanesce - para sempre.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

"ars gratia artis"

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Somos somente humanos. Estamos suscetíveis à ira, ao ódio, à misantropia, ao egoísmo... É uma batalha diária superar nossos sentimentos pequenos com relação a coisas mínimas.
Somos humanos.
A raiva e a inveja são naturais. O que realmente é difícil é o amor.
Mas não o amor como uma palavra abstrata, simples e singular, como sentimento uno. O amor como uma amálgama de respeito, de compaixão, de alegria pela companhia, de paciência, de compreensão: é esse o mais difícil e o mais complexo dos sentimentos.
O ódio é o querer mal, o egoísmo é a exacerbação do próprio bem e assim por diante.
O amor é o bem, mas o bem composto de tantos outros “mínimos” bens. É sentir compaixão de quem sente raiva de você, é a compreensão do motivo dessa raiva, é a tentativa de ajuda, é a paciência ao tentar entender e é o respeito pela não aceitação da tua mão quando você a oferece...
Por essa ótica respeitar, compreender, compadecer-se, ter paciência é, ao cabo, sentir amor.
Amar aqueles que nos amam é um exercício simples, fácil. Aqueles outros amores demandam mais desprendimento, mais atenção.
E amar assim não deve, jamais, ser um mandamento religioso, inclusive não cabe em uma religião. Amar assim deve nascer de uma luta constante, de um combate diário contra o mal que não queremos para nós mesmos.
É o amor da razão!
Alimentar o ódio, o rancor, a mesquinhez, o egoísmo nos faz tristes, distante de amizades verdadeiras.
Ninguém acompanha pessoas pequenas. Até mesmo Maquiavel dizia que as companhias do príncipe revelavam com que sabedoria ele as escolheu, demonstrando assim o seu caráter benévolo ou malévolo.
Erguer uma muralha de egoísmo e orgulho só atrairá pessoas que vão a querer no chão.
Plantar árvores frutíferas só trará pássaros e ar puro.
O feixe de sentimentos que resulta no amor traz ar limpo pro pulmão.
Nos faz mais lúcidos de que ao final da vida não vai importar quantas pessoas fizemos chorar, desde que tenham chorado de alegria por terem nos conhecido.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

implosões

começava a desconstrução do que havia sido erguido com cuidado, com zelo e com paciência, sobretudo. haviam, os dois, há algum tempo se cansado com os pequenos furacões que rondavam as beiras da cama e teimavam em adentrar nos roupeiros bagunçando as camisas.
os olhos magoados das lágrimas se voltavam a prazeres outros que não estavam inscritos em círculos conhecidos da vida comum. transbordavam as mãos de carícias celestes, que alcançavam nuvens alvas, relvas verdejantes e que tinham gosto de romãs...
os beijos das pálpebras tocavam a luz tênue de olhos diversos. as bocas ofegavam palavras sussurradas em minúsculas sinfonias de gemidos... o prazer de ter infímas carícias, já perdidas entre ambos, revelava um universo de oportunidades que ambos pensavam que não mais se permitiriam...
e como uma implosão em slow motion de um grande arranha-céu art nouveau caíam no vácuo pedaços de concreto, tijolos, vigas...
o som surdo do prédio em agonia enchia as ruas. triste se obvervava ele cair. via-se de longe, e cada partícula lançada no espaço que caía em direção ao solo parecia uma lágrima. e não era mais possível parar... a ruína era o destino invitável.
uma construção caída por terra, a poeira levantando aos poucos, o silêncio do espaço vazio antes ocupado por algo duro, firme, teoricamente permanente.
e os olhos em espanto, de ambos, miravam o alto, onde ficava o andar mais alto.
e tudo parecia vazio naquela tarde. caminhar sem referência nenhuma em uma cidade tão grande, sem  lugar algum para onde voltar, sem sorrisos a espera. tudo tão insípido, tudo tão destruído, tudo feito por vontade própria.
pensava que caíria com a contrução, em realidade desejava isso.
mas de tudo guardou um pequeno pedaço vermelho de alguma parede: construíria novos edifícios com aquela partícula.
construíria. sabia disso: o que não era a vida do que um eterno construir e destruir?
amavam-se, mas cada um erguiria um novo arranha-céu.